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Na barca dos homens 

PAIXÃO E FÉ

“Velejar, velejei

No mar do Senhor

Lá eu via fé e a paixão

Lá eu vi a agonia

Na barca dos homens...”

Tavinho Moura e Fernando Brant

 

Não recordo o ano, mas não esqueço o dia em que escutei pela primeira vez essa música, na voz de Milton Nascimento. Foi um momento arrebatador! Acho que, até então, nunca tinha ido às lágrimas diante de uma manifestação artística. Também não lembro direito quando começou minha relação com embarcações. Talvez, ali com meus 13 anos, quando brincava em cima das jangadas estacionadas nas areias da praia de Pirangi, no Rio Grande do Norte. Aliás, na bandeira do Estado, criada por Câmara Cascudo, entre um coqueiro, uma carnaúba, aparece justamente um jangadeiro. Isso sempre foi motivo de meu apreço. Com o tempo, veio o orgulho. Pois é, ouvi uma vez numa palestra que todo projeto tem um tempo de maturação, que é quando a pessoa vai tomando contato e familiaridade com o assunto proposto. Essa Exposição Fotográfica, então, deve ter começado na minha adolescência.

Outro marco não menos importante de sua gestação foi o laboratório de fotografia do mestrado em Zoologia da UFPB, nos idos de 1990. Ali, entre papéis e reagentes vencidos, fui iniciado na técnica da revelação de fotografias por minha querida e saudosa Sílvia Tozoni (In Memoriam). As duas paixões, no entanto, só se juntaram no ano 2000, quando iniciei minha tese de doutorado na Baía de Todos os Santos. Desde então, nunca se separaram. Na Bahia, com suas águas e seus povos, canoas, barcos, jangadas e arte em mim se plasmaram. E o que é melhor, dentro do trabalho, dentro da Ciência! Também não esqueço quando mostrei fotos Preto & Branco de minhas viagens de campo pra meu amigo e orientador Zé Geraldo. Ele, de cara, me sugeriu fazer uma etnografia visual. Adorei a ideia, mesmo sem saber do que se tratava. Pronto! Ali, o professor/pesquisador se tornava pra sempre imagético.

Já a poética, veio bem tardiamente. Talvez, o primeiro encanto tenha sido os “Diários Poéticos” de Mário Quintana, uma agenda com lindas frases do poeta. Devo ter tido uns dois ou três, creio. Mas pra valer mesmo, foi quando tomei conhecimento de Manuel de Barros, no documentário “Só Dez Por Cento é Mentira” (obrigado, Preta!). Depois dali, despretensiosamente, passei a rabiscar coisas. Definitivamente, não me tornei um poeta. No máximo, poético! Mas ainda assim, creio que há algo de poesia no fazer fotográfico. Poesia da imagem, escrita em luz, com ajuda de reagentes químicos e, hoje em dia, de pixels. A rima “poética e estética” me agrada faz tempo. A poética só veio completar! E o que vocês vão ver aqui é uma das manifestações dessas fusões de paixões, ao longo de um longo processo. Que, aliás, ainda flui. Como a água... levando... a barca dos homens.

 

 

Franzé ®

Professor, entre outras coisas...

Universidade Estadual de Feira de Santana

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